Desafios no mercado de trabalho, maternidade e a luta pelo direito de decidir sobre o próprio corpo: o que define a mulher de hoje? Seja qual for a resposta, uma coisa é certa – é preciso quebrar tabus. Rompendo paradigmas e desconstruindo preconceitos, uma fisioterapeuta pélvica e uma especialista em marketing, ambas de Porto Alegre (RS), uniram educação sexual e e-commerce para vender produtos eróticos e de autocuidado íntimo exclusivo para mulheres com a loja virtual VagiShop.
A história do negócio começou com o interesse de Ana Gehring, uma das fundadoras, pela sexualidade feminina. Formada em Fisioterapia Pélvica pela PUCRS, especializou-se na área e passou a atender mulheres em consultório, ensinando técnicas como o pompoarismo – um tipo de ginástica pélvica que fortalece a musculatura vaginal, proporcionando benefícios como aumento do prazer sexual e auxílio no tratamento e prevenção da incontinência urinária. Ao perceber as dúvidas recorrentes de suas pacientes, Ana decidiu criar um perfil no Instagram para educar e informar sobre a saúde íntima feminina de forma leve e coloquial. Assim, em 2016, nasceu a página @Vaginasemneura, que hoje soma 870 mil seguidores.
“Sempre me interessei pela sexualidade feminina, principalmente por ser um tema cercado de tabus. Na faculdade, já sabia que esse era o caminho que queria seguir. Com a página, pude desmistificar o tema e levar conhecimento a muitas mulheres que não teriam condições de frequentar um consultório. Preconceitos só são quebrados com conhecimento”, afirma Ana, que completa “Ainda hoje, temos muitas seguidoras que visualizam nosso conteúdo, mas não seguem o perfil por vergonha ou receio de que vejam o nome @Vaginasemneura em seus perfis”.
Plataforma de e-commerce impulsiona negócio
Em 2019, o sucesso da página levou Ana a se unir com a especialista em marketing digital Nalu Dorscheid. Nalu, que já tinha experiência com comércio online, enxergou o potencial de monetização das iniciativas de Ana, que acumulava.. “O programa revelou que nossas alunas também buscavam recomendações de produtos complementares. Então lançamos nosso primeiro produto, o VagiFit. Não imaginamos que íamos ter tanta procura ao lançar, tivemos que nos organizar para a demanda”, relembra.
Com o crescimento das vendas, as empreendedoras precisaram buscar tecnologia para suportar o aumento do tráfego no site. Foi então que adotaram a plataforma de e-commerce Tray, pertencente à LWSA, que permite criar lojas online integradas a canais digitais, além de facilitar ações de marketing e vendas, criando assim a VagiShop, loja virtual dedicada exclusivamente à saúde íntima e ao prazer feminino, se diferenciando do negócio tradicional das sex shops.
“Com o crescimento do comércio digital, quem empreende online precisa contar com soluções que ofereçam sites seguros e bem estruturados, incluindo serviços de logística, pagamentos e marketing”, explica Thiago Mazetto, diretor da Tray.
A parceria com a Tray permitiu que as empreendedoras revissem uma estratégia de vendas em outro canal a tempo de obter um recorde de faturamento na Black Friday 2023. “Vimos que a estratégia anterior não performou bem, as vendas estavam muito baixas na análise mensal. Criamos a loja com a Tray e, às vésperas da Black Friday, e com a loja online batemos nosso recorde de faturamento naquele ano”, destaca Nalu.
Hoje o portfólio de produtos que hoje inclui: higiene íntima, cosméticos, pompoarismo e vibradores. Entre os itens mais procurados estão sabonetes, hidratantes e lubrificantes íntimos, além de outros acessórios.
Enfrentando tabus
Desde o início, o propósito da VagiShop era unir educação e prestação de serviços para o autocuidado feminino. No entanto, em um mercado ainda permeado por preconceitos e desafios próprios, Nalu destaca os obstáculos para a escalabilidade do negócio.
Entre as barreiras estão as restrições das plataformas, que frequentemente classificam o conteúdo como inadequado. “Em 2023, o perfil no Instagram chegou a ser desativado sob alegação de violação das diretrizes da plataforma. Tivemos o mesmo problema, em 2024, com o YouTube. Foi necessário recorrer judicialmente para reaver nossas contas”, conta a especialista em marketing.
O tabu se estende às relações de parcerias, com a recusa de algumas influenciadoras a colaborações com a marca, por receio e vergonha de se expor a um assunto tão sensível. As consumidoras também buscam discrição ao adquirir os produtos. “Utilizamos embalagens discretas e, no extrato do cartão, o nome da loja é uma sigla. O sigilo é essencial, as clientes se sentem intimidadas, tanto que a maior parte dos chamados de atendimentos são para saber o quão discreto é o nosso envio.” explica Nalu.
Apesar dos desafios, as empreendedoras seguem trilhando um caminho de sucesso. Os próximos planos incluem uma linha própria de produtos para cuidados íntimos e um aplicativo, por assinatura, que contará com diversos especialistas em conteúdos saúde, educação sexual e bem-estar feminino.