Com mais de oitenta propostas recebidas, o programa de residência artística e de pesquisa em inteligência artificial voltado para pesquisadores brasileiros promovido pela CloudWalk, empresa global de tecnologia financeira,, divulgou os três projetos colaborativos humano-máquina escolhidos pelo comitê de seleção. Os projetos serão desenvolvidos por três meses, ao longo dos quais os pesquisadores receberão uma bolsa mensal de R$ 10 mil e os recursos computacionais necessários a suas pesquisas.
Rodrigo da Motta Carvalho, físico e mestre em neurociência e cognição, desenvolverá o projeto “Trippin’ Transformers: Induzindo estados de espírito artificialmente alterados em grandes modelos de linguagem”. Seu projeto visa a induzir artificialmente um estado alterado de consciência – como aqueles desencadeados por psicodélicos como LSD – em grandes modelos de linguagem (LLMs). Sua ideia é criar uma mudança mensurável nos processos internos e nas capacidades de codificação dos modelos de inteligência artificial. Ele parte da hipótese do “cérebro entrópico” segundo a qual o aumento da entropia representa o nível de imprevisibilidade do sistema, sendo assim, um biomarcador de alterações na consciência. Segundo o pesquisador, pesquisas anteriores se concentraram na investigação de estados alterados artificialmente na inteligência artificial, mas nenhum trabalho até o momento as conectou à hipótese do cérebro entrópico.
A artista Lina Lopes, formada em cinema pela USP e mestra em design, e o pesquisador clínico Eduardo Padilha foram selecionados com o projeto “Criatividade In Vitro: Interface para Imaginação e Artista em Placa Petri”, que busca responder às seguintes perguntas: se um pensamento nunca foi verbalizado, ele existe? E se ele puder ser materializado sem passar pela linguagem? Com o desafio de transformar o que se passa dentro da mente em algo que possa ser experienciado fora dela, a artista e o cientista buscam criar um modelo de inteligência artificial capaz de traduzir pensamentos em imagens a partir da leitura de ondas cerebrais, explorando, ainda, a possibilidade de neurônios cultivados em laboratório gerarem arte de forma autônoma.
O terceiro projeto selecionado, apresentado pela artista Bruna Mattos, chama-se “Orquestra Micelial: Uma obra bio-digital guiada por IA” e pretende fundir fungos (micélios) a algoritmos generativos de inteligência artificial para criar paisagens visuais e sonoras em tempo real. Consistente com o espírito colaborativo humano-máquina que pauta a residência, a pesquisadora pretende confiar quase inteiramente nas instruções fornecidas pelos próprios modelos de linguagem para criar um ecossistema bio-digital inédito, questionando, assim, a linha tênue entre obras de autoria humana e obras de autoria algorítmica.
Segundo Pedro Fonseca, responsável pela área de políticas de IA da CloudWalk e coordenador do programa de residência, não apenas os três projetos selecionados, mas uma grande parte das propostas recebidas, tinham potencial de contribuir para a discussão mais ampla sobre o papel das inteligências artificiais na contemporaneidade e nas especulações sobre o futuro emergente. “Recebemos mais de 80 propostas, muito interessantes e intrigantes, que vão desde a possibilidade de uma psicodelia maquínica até a intrincada relação entre o cérebro humano e redes neurais artificiais, passando pela relação sexual entre homem e máquina, por discussões filosóficas atinentes à inteligência artificial e vários outros temas fascinantes. Estamos muito entusiasmados com as pesquisas a serem desenvolvidas pelos novos residentes”.
A CloudWalk tem uma equipe multidisciplinar de mais de sessenta pessoas focadas em pesquisas e desenvolvimento a partir de uma exploração intensa e abrangente de modelos de inteligência artificial. Segundo Fonseca, a residência artística e de pesquisa foi a maneira encontrada pela CloudWalk para acompanhar investigações que não necessariamente estão no radar do seu time interno e, ao mesmo tempo, fomentar o trabalho de pesquisadores brasileiros em inteligência artificial.
A residência começou em 31 de março e segue até julho, quando os residentes apresentarão publicamente os resultados das suas pesquisas.