A autenticidade costuma ser vista como um dos pilares do sucesso no ambiente corporativo — a ideia de que expressar opiniões livremente e agir conforme sua verdadeira essência é sempre positivo. No entanto, segundo dados da Hogan Assessments, referência global em avaliações de personalidade voltadas ao mundo dos negócios, essa noção está mais próxima de um mito do que da prática real — e, em alguns casos, pode até ser prejudicial à carreira.
Ser autêntico, na essência, significa agir de forma coerente com suas crenças, sentimentos e personalidade. Mas, desde cedo, aprendemos a nos adaptar às expectativas dos outros: da família, da escola e, mais tarde, do mercado de trabalho. No mundo corporativo, é comum moldar comportamentos com base no que chefes, colegas e a cultura da empresa esperam, priorizando a simpatia e a capacidade de adaptação em vez da expressão genuína do nosso eu. Pesquisas indicam que, quando alguém diz se sentir “autêntico” no trabalho, muitas vezes está apenas adotando comportamentos socialmente aceitos — e não necessariamente sendo quem realmente é.
Embora a autenticidade ainda seja considerada uma qualidade desejável no ambiente de trabalho, especialistas alertam que nem todo pensamento ou sentimento precisa ser compartilhado. Em contextos profissionais, a comunicação deve levar em conta seus impactos e objetivos. Muitos afirmam querer líderes autênticos, mas, na prática, o que realmente valorizam é integridade e coerência entre discurso e ação. Um líder que admite comportamentos antiéticos, por exemplo, não se torna mais eficaz apenas por ser transparente.
Segundo os especialistas da Hogan Assessments, há três principais razões pelas quais “ser você mesmo” no trabalho nem sempre é o melhor caminho:
1. Profissionalismo importa: Manter um certo grau de formalidade é essencial no ambiente corporativo. Ser excessivamente informal ou compartilhar crenças pessoais sem filtro pode não estar alinhado à cultura da empresa — e isso pode afetar a forma como colegas e líderes percebem você.
“Dizer ‘seja você mesmo’ pode ser arriscado, seja em entrevistas de emprego ou em cargos de liderança. Isso pode soar como falta de profissionalismo ou até arrogância”, afirma Ryne Sherman, PhD, Chief Science Officer da Hogan Assessments.
2. Evitar conflitos desnecessários: Expressar opiniões sobre temas sensíveis pode gerar desconfortos ou até atritos. Por isso, muitas pessoas preferem manter certos pontos de vista em sigilo para preservar a harmonia no dia a dia.
“Encontrar o equilíbrio entre autenticidade e profissionalismo é essencial para crescer na carreira. Profissionais que avaliam com cuidado como seus valores pessoais se conectam aos objetivos da organização têm mais chances de avançar sem abrir mão de quem são”, destaca o Dr. Sherman.
3. Crescimento profissional: Seguir as normas e expectativas da empresa geralmente contribui para a evolução na carreira. Um comportamento mais alinhado ao perfil organizacional tende a ser mais bem recebido por líderes e colegas.
“Líderes que se acomodam demais em seus cargos correm o risco de baixar o padrão de profissionalismo, o que pode prejudicar a credibilidade com a equipe e até com parceiros externos”, completa o especialista.
A conclusão é direta: em vez de buscar uma autenticidade absoluta, profissionais devem focar em apresentar sua melhor versão. Isso significa equilibrar sinceridade com inteligência emocional, construir relações de confiança e alinhar comportamentos aos seus objetivos de carreira. Ferramentas como avaliações de personalidade oferecem apoio estratégico para entender como nossas atitudes moldam nossa reputação no trabalho — e como usá-las a favor de uma trajetória sólida e coerente.