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    Vieses algorítmicos são desafio para empresas na incorporação da IA

    A Inteligência Artificial (IA) é frequentemente vista como uma tecnologia revolucionária, capaz de proporcionar eficiência, precisão e abrir novas oportunidades estratégicas. Contudo, ao passo que as empresas se beneficiam das vantagens da IA, surge também um desafio crítico e, por vezes, negligenciado: a equidade algorítmica. Vieses ocultos nesses sistemas podem comprometer não apenas a eficiência das decisões empresariais, mas gerar consequências legais, éticas e sociais significativas. 

    A presença de vieses algorítmicos pode ser explicada pela natureza da própria IA, especialmente no aprendizado de máquina (machine learning). Modelos são treinados com dados históricos, e quando esses dados refletem preconceitos ou distorções sociais, os algoritmos naturalmente acabam perpetuando esses vieses. Além dos vieses na informação, o próprio algoritmo pode trazer uma descompensação na ponderação de fatores realizada, ou nos dados usados como proxy, ou seja, dados que substituem as informações originais, mas não são as ideais para aquela análise. 

    Um exemplo emblemático desse fenômeno é encontrado no uso de reconhecimento facial, especialmente em contextos sensíveis como segurança pública. Diversas cidades brasileiras adotaram sistemas automatizados com o intuito de aumentar a eficácia das ações policiais, mas análises demonstram que esses algoritmos frequentemente cometem erros significativos, sobretudo ao identificar indivíduos de grupos étnicos específicos, como pessoas negras. Estudos da pesquisadora Joy Buolamwini, do MIT, apontaram que algoritmos comerciais apresentam taxas de erro acima de 30% para mulheres negras, enquanto para homens brancos, a taxa cai drasticamente para menos de 1%.

    Legislação brasileira: mais rigidez no futuro

    No Brasil, além da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) também está em tramitação o Marco Legal da IA (PL nº 2338/2023), que estabelece diretrizes gerais para o desenvolvimento e aplicação de IA no país​. 

    Embora ainda não aprovado, esse projeto de lei já sinaliza direitos que as empresas deverão respeitar, como: direito à informação prévia (informar quando o usuário está interagindo com um sistema de IA), direito à explicação das decisões automatizadas, direito de contestar decisões algorítmicas e direito à não-discriminação por vieses algorítmicos​. 

    Esses pontos exigirão que empresas implementem transparência nos sistemas de IA generativa (por exemplo, deixando claro quando um texto ou resposta foi gerada por máquina) e mecanismos de auditoria para explicar como o modelo chegou a determinada saída.

    Governança algorítmica: a solução para os vieses

    Para empresas, os vieses algorítmicos vão além da esfera ética, tornam-se problemas estratégicos relevantes. Algoritmos enviesados têm o potencial de distorcer decisões essenciais em processos internos como recrutamento, concessão de crédito e análise de mercado. Por exemplo, um algoritmo de análise de desempenho de filiais que superestime sistematicamente regiões urbanas em detrimento de regiões periféricas (devido a dados incompletos ou preconceitos) pode levar a investimentos mal direcionados. Assim, vieses ocultos minam a eficácia das estratégias data-driven, fazendo com que executivos tomem decisões baseadas em informações parcialmente erradas.

    Esses vieses podem ser corrigidos, mas vão depender de uma estrutura de governança algorítmica, com foco na diversidade dos dados utilizados, transparência dos processos e na inclusão de equipes diversificadas e multidisciplinares no desenvolvimento tecnológico. Ao investir em diversidade nas equipes técnicas, por exemplo, empresas conseguem identificar mais rapidamente potenciais fontes de viés, garantindo que perspectivas diferentes sejam consideradas e que falhas sejam detectadas precocemente.

    Além disso, o uso de ferramentas de monitoramento contínuo é fundamental. Esses sistemas ajudam a detectar a deriva de vieses algorítmicos em tempo real, possibilitando ajustes rápidos e minimizando o impacto negativo. 

    A transparência é outra prática essencial na mitigação de vieses. Algoritmos não devem funcionar como caixas-pretas, mas sim como sistemas claros e explicáveis. Quando empresas optam pela transparência, ganham a confiança de clientes, investidores e reguladores. A transparência facilita auditorias externas, incentivando uma cultura de responsabilidade compartilhada na gestão da IA.

    Outras iniciativas incluem a adesão a frameworks e certificações para governança de IA responsável. Isso inclui criar comitês internos de ética em IA, definir políticas corporativas para seu uso, e adotar padrões internacionais. Por exemplo, frameworks como: a ISO/IEC 42001 (gestão de inteligência artificial, a ISO/IEC 27001 (segurança da informação) e ISO/IEC 27701 (privacidade) ajudam a estruturar controles nos processos de dados usados por IA generativa. Outro exemplo é o conjunto de práticas recomendadas pelo NIST (National Institute of Standards and Technology) dos EUA que orienta a gestão de risco algorítmico, cobrindo detecção de viés, verificações de qualidade de dados e monitoramento contínuo de modelos.

    Consultorias especializadas desempenham papel estratégico nesse cenário. Com expertise em inteligência artificial responsável, governança algorítmica e compliance regulatório, essas empresas ajudam organizações não apenas a evitar riscos, mas a transformar equidade em vantagem competitiva. A atuação dessas consultorias vai desde avaliações detalhadas de risco, até o desenvolvimento de políticas internas, passando por treinamentos corporativos sobre ética em IA, garantindo que equipes estejam preparadas para identificar e mitigar possíveis preconceitos algorítmicos.

    Dessa forma, a mitigação dos vieses algorítmicos não é apenas uma medida preventiva, mas sim uma abordagem estratégica. Empresas que se preocupam com a equidade algorítmica demonstram responsabilidade social, reforçam sua reputação e protegem-se contra sanções legais e crises públicas. Algoritmos imparciais tendem a oferecer insights mais precisos e equilibrados, aumentando a eficácia das decisões empresariais e fortalecendo a posição competitiva das organizações no mercado.

    Por Sylvio Sobreira Vieira, CEO & Head Consulting da SVX Consultoria

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